quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A minha caminhada ...






Sou a filha do meio dentre três irmãos. Fui muito esperada antes de nascer, pois minha mãe sempre quis ter uma menina. Meu pai é balconista de uma farmácia, mas tem em torno de 28 anos na profissão, posso dizer que ele é quase um farmacêutico (rsrs). Minha mãe é dona de casa, sempre foi. Hoje vivemos nós três, pois meus irmãos moram em são Paulo, um é dono de uma loja, o outro é estudante de química. Enfim.

Fiz a educação infantil em escola particular. Na época do maternal não tenho muitas lembranças, apenas que sempre deveríamos cantar o Hino da Bandeira e o Hino Nacional brasileiro antes de entrarmos para sala de aula.

A minha alfabetização aconteceu de forma tradicional. Recordo-me de muitas cópias no caderno para treinar a leitura e a escrita e a professora Ana (brava) tomava a lição de cada um. Outra hora ela escrevia as famílias (ba, be,bi,bo,bu, Da, De, Di, ...) no quadro e em couro tínhamos que recitar junto com ela. Ou seja, algo bem memoristico, tipo ‘decoreba’ mesmo, sem qualquer relação com nada. Cada aluno tinha seu nome escrito numa fichinha, e deveríamos copiar várias vezes no caderno para aprendermos o nosso nome. E quando estava errado, feio, ou borrado a pró Ana reclamava muito. Tudo tinha que está bem bonito, limpinho. Fiz também caderno de caligrafia, aff, quem não fez? rsrsrs

Na 1ª série estudava numa escolinha pouco conhecida chamada Brinco e Aprendo, tipo escolinha de bairro, éramos somente 4 alunos na sala. Algo que me marcou muito nesse período e que já vi a professora Socorro comentar, é do portão da escola. Quando as crianças chegavam, cada professora vinha receber sua turma no portão e encaminhar para sala. A Prof Rita tão carinhosa e sorridente, todos os dias estava lá para nos abraçar e nos conduzir até a sala. Contava história, e cantava uma musiquinha que até hoje não me saí da mente. Aula de religião, sempre cantávamos: Três palavrinhas só, eu aprendi de có, Deus é amor, tralá lá lá! Cantávamos com muita alegria.

Da 2ª a 4ª série estudei na Escola D. Pedro II. Foram os melhores anos de minha vida. Sinto muitas saudades. Lá eu aprendi muito, fiz alguns amigos, e recordo-me com muitas saudades de toda a escola, de direção à portaria. Nossa, tia Maria, quanto amor para nos receber no portão da escola. A minha profª (tia) Rita Barreto da 4ª Série era maravilhosa, não que as outras não fossem, mas ela me marcou bastante. Suas aulas sempre encantavam a turma. Ela fazia com que entendêssemos as coisas na nossa linguagem, de maneira divertida, e com a nossa realidade.

Trazia sempre uma novidade. As experiências de ciências, a do feijão com algodão dentro do vidro. Lembro-me que fizemos um caderno do folclore com palitos de fósforo na capa, e tínhamos que pesquisar as músicas, as comidas típicas, as fábulas, os contos, era uma festa, uma espécie de diário do folclore. Por que ela contava algumas histórias na aula e tínhamos que pesquisar outras. Essa relação professor aluno era fortíssima. E marcou muito para mim, por que o fato dela se preocupar em nos ensinar, em aprendermos direitinho, fazia com que estudássemos com mais empenho para não decepcionar a pró (Tia) Rita, e também nos incentivava a estudar, era como se ela fosse o nosso modelo. Wallon nos ensina que a afetividade na relação-professor aluno é de fundamental importância, pois o que se diz, como se diz, em que momento e por quê - da mesma forma que o que se faz, como se faz afetam profundamente as relações professor-aluno e, conseqüentemente, influenciam diretamente o processo de ensino-aprendizagem.

Concluída a educação infantil como um todo, fui estudar numa escola pública. Do ensino fundamental ao médio. Tive bons professores, assim como professores que não me trazem saudades. E alguns fatos marcam nossa história. Não me recordo como foi minha aprendizagem matemática nas series iniciais, o fato é que eu nunca fui boa aluna na disciplina, sempre fui aprovada, mas nunca me identifiquei, nem fui destaque. Sempre tive dificuldades. Na 6ª série tive uma professora de matemática do tipo que tomava tabuada (sabatina surpresa- tinha que decorar) e estava lá para trazer o conteúdo, apenas. Não aprendi quase nada com ela, e o tal do plano cartesiano (que me fez ir para 1ª e única recuperação ao final do ano) só vim compreender no 2º ano do ensino médio com o profº Sérgio Mercury. Muito dinâmico nos fazia entender a matemática ‘brincando’, fazendo relação com as coisas, com o cotidiano. Fiquei tão feliz quando compreendi o tal plano cartesiano. Para uns pode ser bobagem, algo bem simples, mas entendê-lo foi lançar fora um trauma de 6ª série. rsrsrs.

A avaliação acontecia de forma classificatória mesmo, modelo tradicional. A nota era a medida do conhecimento alcançado, o professor ensina e avalia; se o aluno for bem, é sinal que o professor ensinou de forma adequada; se o aluno for mal, é o único responsabilizado pelo seu aprendizado, podendo ser reprovado ou excluído. Dessa forma o ensino e aprendizagem são entendidos como processos independentes: o ensino é tarefa do professor; a aprendizagem é obrigação do aluno, ou seja, um é independente do outro.

Pedagogia não era, e nunca tinha sido minha opção. Sempre me identifiquei com a área de ciências. Quando conclui o ensino médio, optei por fazer biologia, pois gostava da idéia de ser bióloga. Trabalhar com a genética, reprodução humana, sempre achei fascinante. Mas, o que me levou a escolher pedagogia foi uma conversa no banco da praça com um amigo, por mais incrível que pareça, além da minha afinidade com crianças. Após dois anos consecutivos prestando vestibular para biologia, que a principio era (e não deixou ser) uma área em que me identifico muito, estava meio que desmotivada a estudar para entrar numa faculdade, daí, conversando com Omar de repente ele me disse assim: por que você não faz pedagogia? E dessa forma paramos para refletir em o quanto eu poderia gostar, me identificar, uma vez que gosto desse mundo mágico que é o desenvolvimento infantil em todas as suas peculiaridades. E acreditei que pudesse acertar, e assim fiz.

Estava ansiosa para começar a mergulhar nesse mundo pedagógico, pois a minha idéia era absorver o máximo de conhecimento que me proporcionasse entender o desenvolvimento das crianças, esse ser humano inteligente que anseia a todo o momento descobrir, desabrochar. E, embora não tivesse claro entendimento sobre o pedagogo em si, sabia que ele dava suporte às minhas questões. Entender o aprendizado, o porquê de mesmo sendo da mesma idade aprendem de forma diferente, e por que essa diferença? Será que a educação, os pais, o meio influencia? Até que ponto? Enfim, questionamentos que aos poucos foram sendo clareados com a psicologia, com a sociologia, com a história da educação e com as discussões em sala.

E aos poucos fui descobrindo que apesar de um ser complexo, o ser humano é quem constrói definitivamente a sua história, que em todos os momentos ou fases, como diz Piaget, ele não é absolutamente aquele ser passivo, mas um ser participante, ativo no processo de seu desenvolvimento. Percebi que é preciso respeitar cada criança em sua individualidade, pois apesar de muitas vezes terem a mesma faixa de idade, cada uma tem seu tempo de aprender, de compreender, de se desenvolver, e que não necessariamente tem que ser pelos mesmos caminhos que a outra. Nosso bom e querido Freire já dizia que: ‘Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.’

Compreendi com a história da educação e com a sociologia que o fator econômico é que define que tipo de educação, de informação devemos ter, e como isso modifica significativamente toda uma história, não somente individual, mas de um modo geral para toda uma sociedade. Quão ricas foram as discussões em estrutura e funcionalismo da educação básica, onde pude perceber que uma educação de qualidade não depende tão somente de um bom professor, ou de uma boa didática, mas de interesses políticos, e que talvez com um pouco de compromisso e responsabilidade poderíamos construir um País com mais oportunidades de melhoria de vida.

Até agora o ponto forte da minha jornada em pedagogia foi o estágio em educação infantil. Lá eu aprendi muito. Principalmente por nunca ter passado pela experiência da sala de aula e por tantas expectativas. Munida com todo conhecimento teórico aprendido, Paulo Freire, Piaget, Montessori, Skinner, Ausubel.., acreditamos que podemos mudar o mundo, refazer toda história. Achamos que vamos para ensinar, e nos surpreendemos quando descobrimos que vamos aprender. E é aí que me lembro de Freire em sua pedagogia da autonomia quando ele diz que: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção.” (pág. 22, 1996).

O estagio é um momento de reflexão, um período que faz você relacionar tudo que se aprende teoricamente com a prática e por isso acho que deveria ser iniciado desde o segundo semestre, quando começamos a ter um primeiro contato com disciplinas que falam sobre o comportamento humano - psicologia, sociologia - assim as discussões seriam muito mais ricas e o aprendizado muito mais significativo. Percebi que não há teoria perfeita, todas podem dar sua contribuição de alguma forma, basta o professor estar sensível para o momento certo de fazer uso deste ou daquele ponto que uma determinada teoria se apresente melhor do que outra, e que às vezes é necessário muito mais o comprometimento, a reflexão, a responsabilidade do que uma bagagem teórica, pois de nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável a mudanças.

O que levo até agora, é a certeza de que cada vez mais quero aprender e me comprometer em fazer meu papel enquanto futura educadora. Pois percebi com o pouco tempo do estágio que nós educadores somos espelhos para essas crianças em sala de aula. Como eles percebem e reproduzem cada gesto, cada atitude, cada palavra que lhes chamam atenção (experiências que marcam). Somos a referência deles fora de casa, e isso faz com que se identifiquem com isso ou aquilo que aprendem conosco, por isso é preciso ser, e ter bons exemplos, uma vez comprometidos com o que fazemos e acreditamos, poderemos formar futuros cidadãos comprometidos com a mudança de uma sociedade desejada por todos nós.
E que venha o estágio do ensino fundamental, tenho muitoooooo que aprender!



6 comentários:

  1. Amiga, vc sempre foi muito linda.
    Adorei sua história, fez eu voltar no tempo, sentir saudades da época da escola, da univerdade, enfim, me emocionei de verdade.
    Parabéns!
    Deus abençoe e ilumine essa nova jornada.
    Q venha o estágio. Afinal, estamos preparada. rs...
    Amo e me orgulho muito de vc.
    Bjs

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Sua história é bem legal, me fez lembrar também da musiquinha kkkkkkkkk, já cantei muito ela.
    Que Deus nos ajude nessa nova etapa e que venha o estágio!
    Bjus!!

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  4. Oi amiga, sua história está ótima!!Nossa como o primeiro estágio foi importante pra gente não foi?Aprendemos muito, o friozinho na barriga ainda continua para o estagio de agora,mas não como no primeiro!!Com fé em Deus dará tudo certo novamente e aprenderemos dobrado!!bjssss Amo vc!!!

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  5. Milinha adorei seu blog, tá lindo, lindo amiga e a sua história está ótima!!
    Que Deus nos abençoe nesse novo estágio. Mesmo em ter passado pelo primerio, a sensação ainda é de friozinho na barriga pelo que vem pela frente!!Mas com fé em Deus assim como no 1º venceremos mais uma etapa!!rsrsrsr
    beijinhosss no coração!!

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  6. Oi querida,

    Sua narrativa está belissíma. Que articulação importante vc faz com a questão da ludicidade na sua formação. esse ponto é fundamental. Vc também traz reflexões teóricas muito bem embasadas na sua itinerância.Apenas senti falta de algumas reflexões sobre a concepção de alfabetização implicita na sua narrativa.

    Beijos,

    Socorro

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